Subir o Pico, a Montanha Mais Alta de Portugal

Subir o Pico

Subir o Pico, a montanha mais alta de Portugal, é uma verdadeira experiência de vida. No entanto, é uma experiência que requer muita dedicação, treino e, acima de tudo, muita força de vontade.

Localizada na Ilha do Pico no Arquipélago dos Açores, a Montanha do Pico detém o título de montanha mais alta de Portugal devido aos seus imponentes 2351m, 358m acima da Serra da Estrela.

Não tendo estrada para atingir o topo, conseguir chegar ao ponto mais alto deste vulcão dá uma sensação que fica conosco para o resto da vida. Mas a subida em si não é fácil.

No total, o caminho consiste “apenas” em 3.8km, mas não se deixem enganar por este número aparentemente tão pequeno porque, na prática, são 3.8km com um desnível de 1150m, o que dá um desnível médio de mais de 300m por cada km.

Podem optar por fazer uma subida diurna, noturna (que se inicia de madrugada e culmina com o pôr do sol) ou, a mais complicada, a subida com pernoita na cratera.

Adicionalmente, podem optar por subir apenas até ao primeiro patamar, a Furna Abrigo, subir até à caldeira ou, a que nós fizemos, até ao Piquinho (os últimos 50m em altura).

Para ser possível, recomendamos uma grande preparação: quer ao nível físico, com treino em montanha, como com a aquisição do equipamento necessário para uma subida segura, terminando com a reserva de um guia – este último passo que nós consideramos indispensável para quem (como nós) não tem experiência neste tipo de aventuras.

1. A Preparação para Subir o Pico: Treino, Roupa e Guia

Uma boa preparação física é indispensável para conseguir atingir o objetivo de subir o Pico. Sendo Portugal um país consideravelmente plano, é natural que o nosso treino em questão de variação de altitude seja mais escasso. No entanto, existem alguns bons trilhos que recomendamos para treinarem.

Um trilho que vos permite treinar a questão de subidas e descidas mais intensas, tendo uma constante variação de altitude é o Trilho Piódão, Foz D’ Égua, Chãs D’ Égua, no distrito de Coimbra (More information here). Aqui vai havendo uma variação constante entre os 500m e os 700m, sendo um trilho mais longo, pelo que permite treinar resistência. Outro trilho é a Rota das Faias que, apesar de ligeiramente mais curto, tem um maior desnível, variando entre os 880 e os 1174m, permitindo assim ao corpo habituar-se quer a caminhar em altitude, quer ao seu desnível (More information here). Estes foram os trilhos que fizemos mas existem diversos – procurem trilhos com desnível acentuado e, preferencialmente, que vos permita também treinar a resistência.

Apesar deste treino, é preciso terem noção que a subir o Pico (e descer!) vai custar: nós não conhecemos nenhum trilho em Portugal Continental vos consiga verdadeiramente preparar para o desnível que vão encontrar, mas sem dúvida que ajuda a preparar o corpo.

Subir o Pico

Além do treino físico, convém adquirir roupa adequada.
No nosso caso, optámos por levar:

  • Camisola térmica + camisola polar;
  • Calças impermeáveis de caminhada;
  • Luvas resistentes ao frio;
  • Gorro;
  • Botas de caminhada;
  • Mochila de 30L;
  • Óculos de sol.

Todo este material é praticamente indispensável para subir a Montanha.

Se, como nós, subirem na altura de maior frio (no nosso caso foi em Janeiro), poderá existir neve na cratera, pelo que é obrigatório levarem crampons (espigões que se adicionam às botas de caminhada). Como optámos por contratar um guia com material incluído, a mochila, os bastões, o capacete e os crampons foram disponibilizados pela empresa com que realizámos a subida, mas também este material facilita e protege muito durante a caminhada.

Tenham em atenção que a temperatura na cratera e no Piquinho é extremamente baixa em algumas alturas do ano, sendo a sensibilidade térmica muitas vezes perto de 0ºC. Levem roupa extra e vão vestindo camadas à medida que vão subindo.

O que nos leva ao último ponto na preparação: arranjar um guia para subir o Pico. Pela nossa experiência, este passo é completamente indispensável.

A Montanha tem um terreno muito incerto e, apesar de existirem marcações de locais a passar, não existe um caminho delimitado, o que dificulta muito a subida para quem não conhece a Montanha.

A opinião que podemos dar diz respeito à Tripix Azores, que foi a empresa que escolhemos para realizar esta aventura conosco. No final pagámos 65€ cada um (em janeiro de 2022) mas, como já referimos, tivemos direito a equipamento de proteção, seguro, diversas fotografias e vídeos (posteriormente disponibilizados pelo guia) e um certificado de subida à Montanha mais alta de Portugal. Este valor incluiu também o pagamento da taxa da Casa da Montanha, obrigatório de pagar mesmo para quem sobe sozinho.

No nosso caso, o guia foi o incrível Matteo que, durante todo o percurso, foi conversando conosco, respondendo a todas as nossas perguntas sobre a região e motivando-nos.

Tenham em atenção que esta foi a nossa experiência a nível de preços e fatores incluídos nesse valor, pelo que recomendamos consultar os sites e telefonar para as empresas que disponibilizam esta aventura incrível uma vez que pode haver variações nesta questão. Se a meteorologia não for favorável, o guia pode cancelar a subida.

Conheçam a empresa que escolhemos para a subida e os seus preços, deslumbrem-se com as fotos das várias subidas deles e conheçam o incrível guia que é o Matteo.

2. Subir o Pico

A subida à Montanha do Pico é fisicamente cansativa, mas vale completamente a pena.

Durante a subida, tenha muita atenção onde coloca os pés. Muitas vezes o solo tem pedras soltas que, com a força do pé, escorregam. Este solo juntamente com o cansaço acumulado faz com que as quedas sejam um risco constante e, neste solo, extremamente perigosas.

Subida
A subir o Pico já envoltos pelas nuvens
Cratera Pico
Na cratera, a olhar para o Piquinho, os últimos 50 m em altitude

O início é a parte mais fácil uma vez que tem um menor desnível. Ao longo do percurso vão aparecendo um conjunto de 46 estacas que estão não por distância mas por subidas de altitude, pelo que inicialmente parece que ainda faltam muitas, mas as últimas estão muito próximas – por muito que seja a tentação, evitem contar as estacas, terá um efeito psicológico forte.

O primeiro grande patamar é o Patamar da Seleção Natural, ao fim de cerca de 30 minutos. Este patamar é normalmente utilizado pelos guias para observar a preparação física das pessoas. Seguem-se vários patamares com diferentes paisagens e diferentes tipos de terreno.

Daqui segue-se uma das partes mais fáceis, o chamado de Passeio pelo Parque, que é talvez a parte do percurso que mais se assemelha a caminhar num terreno de terra batida.

A 1850m chegamos ao chamado Vale dos Caídos. O nome por si só já permite perceber o que esperar durante este patamar: subidas íngremes e pedras soltas.

A partir daqui as subidas de altitude são mais acentuadas e, claro, cansativas. Destacam-se o chamado de Falso Cume (“fake top”) a cerca de 2000m de altitude – um dos últimos pontos onde nós conseguimos ver a ilha, com uma paisagem de cortar a respiração. Daqui para cima, ficámos rodeados de nevoeiro e nuvens e já só paramos na cratera.

Piquinho
Na cratera, com o Piquinho envolto em névoa
Subir o Piquinho
A parte final: a subida ao Piquinho

Chegando ao marco nº 47 sabemos que chegámos à cratera: este é o topo do vulcão original do Pico. No nosso caso, que visitámos em janeiro, o cenário foi mágico, coberto de neve. Por causa disso, foi obrigatório a utilização de crampons.

A partir daqui faltam os últimos 50 metros em altitude: só falta subir o Piquinho. Esta é a subida fisicamente mais difícil, obrigando a subir muitas vezes com os quatro membros, elevando o corpo. Aqui terão de abandonar os bastões (se os tiverem), que ficam à vossa espera na cratera. Aqui atingiram o objetivo de subir o Pico!

A vista é de cortar a respiração, sendo possível ver a grande maioria das ilhas em volta. Normalmente o clima na Montanha muda muito rapidamente, pelo que podem chegar e estar tempo descoberto ou repleto de nuvens, mas ambos os cenários são bonitos. No nosso caso chegámos com nevoeiro que se levantou ao fim de uns 30 minutos.

3. Descer o Pico

A parte que dói só de relembrar! Dizem que descer é mais fácil mas, para nós, foi a parte mais difícil.

O desnível que a subir tinha nos deixado a ofegar, nesta parte deixou-nos com dores em músculos que durante a subida não tinham dado sinal. Paralelamente, parece que de repente todas as descidas são acentuadas, ao ponto de nem nos lembrarmos de a termos subido.

Apesar de aparentar ser mais rápida, a descida precisa de algum tempo, uma vez que tem de ser feita de forma calma e consciente, para evitar lesões.

Subir o Pico
Uma mistura de neve, sol e nevoeiro, quase no topo do Pico

No final da aventura que foi subir o Pico, deverão regressar à Casa da Montanha para devolver o GPS e anunciar o fim da aventura. A subida e descida total demora normalmente entre 7h a 9h, dependendo das paragens e do ritmo de subida. No nosso caso demoramos cerca de 4h na subida e 4h30 na descida.

As consequências deste esforço físico ficam durante dias: os músculos doem até para ir à casa de banho e algumas pisaduras devem surgir. Mas a recordação de uma grande aventura fica. E vale completamente a pena.

Deixamos algumas recomendações que o Matteo nos deu e que ainda hoje repetimos nas nossas caminhadas: “Um passo a mais é um passo a menos”, “na montanha não há vergonha” e, claro, agradecer a quem nos proporcionou aquela experiência: “Obrigado montanha!” – e obrigado Matteo. 🤘🏻

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